"Alter Ego" procura respostas. Emoções. Descreve-nos duas relações que decorrem paralelamente entre a tela e o palco, e que resultam numa simbiose entre o romance e a tragicomédia. Experimentamos assim, uma realidade duplamente ficcionada, pelo cinema e pelo teatro, que nos permite conhecer um amor ambíguo e possivelmente fraterno entre Elísio e Amadeu e outro, bastante verosímil, entre Inês e Pedro.
Tudo acontece num ambiente vazio, pouco físico e demasiado irreal, onde só as personagens interessam. Algures numa cidade imaginária, moderna e "urbana", que existe com a exclusividade de servir o desenrolar da narrativa, Pedro conquista Inês e apresenta-lhe as personagens do seu último filme, Amadeu e Elísio. O antagonista e o alter ego respectivamente.
A partir daqui, somos convidados a entrar na intimidade de cada relação, e a perceber que Pedro dificilmente poderá terminar o filme e iniciar uma relação estável com Inês enquanto não conseguir fazer com que Elísio supere a insegurança e o medo que sente em relação a Amadeu. O amor não é só palavras. A excessiva criatividade romântica de Pedro faz com que sofra desilusões de idêntica proporção. O romântico é um ser frágil e obsessivo e Pedro não foge à regra. Assim sendo, e fragilizado pela ausência de amor, Pedro cria uma relação imaginária entre Inês e o seu personagem Amadeu. Consumido pelo ciúme e pela angústia da traição, Pedro perde sucessivamente as suas emoções, até adoecer gravemente com problemas no coração. O tempo passa e o estado clínico não evolui. Inês não compreende e os médicos também não. Até perceberem, talvez tardiamente, que desta vez o problema cardíaco teve causas espirituais e não físicas. Pedro sofre de ausência de amor... E Elísio também.