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SALA 2
Ritual das Serpentes
Uma viagem pelos tempos circulares dos mistérios e das
maternidades.
Pela primeira vez no museu, apresenta-se um conjunto assinalável
de estátuas africanas pertencentes à coleção de José de Guimarães, adquiridas a
partir dos anos 80, na Europa. São mães ancestrais, transmissoras de modelos de
vitalidade e beleza de acordo com os critérios locais e variações regionais. Os
motivos que as definem são universais: a criança nos braços ou suspensa às
costas, o peito e o ventre destapados, a serenidade no olhar.
A tematização da arte africana, neste caso, através do motivo da
maternidade, corre o risco de criar “um sistema fechado de significados e
atribuições que molda as práticas de criação, circulação e coleção”. A escala
continental e a diversidade de tradições artísticas, sociais e culturais deve
ser tida em conta no olhar sobre estes objetos.
À sua volta, questionando-as e abrigando-as,
estão os trabalhos de José de Guimarães onde aparece o símbolo da serpente, as
naturezas-mortas de Maria Amélia Coutinho (1916-2004), mãe do artista, e Vanguarda Viperina (1985), registo de uma ação do artista
brasileiro Tunga (1952-2016). O princípio harmonioso dos desenhos florais e a
serpente dos rituais transformadores complexificam o tema da maternidade e da
dualidade.
TODAS AS IDADES
Maria Amélia Coutinho nasceu em Guimarães, em 1916. Filha de José da Rocha Coutinho e de Maria Mendes Simões. Frequentou o Colégio de Nossa Senhora da Conceição até 1931, e a Escola Industrial e Comercial de Francisco de Holanda, em Guimarães, entre 1931 e 1937, tendo concluído os Cursos de Comércio, Desenho e Bordados. Foi aluna dos professores José de Pina, Dr. Fernando Mattos Chaves e do escultor António d’Azevedo. Casou com Joaquim Fernandes Marques, em 1939. Tiveram três filhos: José Maria (o artista José de Guimarães), Joaquim Maria e Maria José. Dedicou-se primeiro ao acompanhamento e educação dos filhos e depois a causas sociais e assistenciais da Paróquia de N. Srª da Oliveira, em Guimarães. Faleceu a 16 de novembro de 2004.
Tunga Arquiteto de formação, o artista brasileiro Tunga (Palmares, Pernambuco 1952 – Rio de Janeiro, 2016) transitou por diferentes linguagens, das artes visuais à literatura, incluindo a escultura, a instalação, o desenho, a aquarela, gravura, vídeo, texto e a instauração. Frequentemente, as suas obras alimentam-se de um repertório que provém de distintos campos do conhecimento, como a psicanálise, a filosofia, a química, a alquimia, bem como as memórias e as ficções. Referências à sexualidade e ao erotismo podem ser observadas na ação Vanguarda Viperina, que se expõe no CIAJG, e que foi realizada por Tunga nos anos 80 e 90, no Brasil e nos EUA. Criatura da natureza que representa as mazelas do mundo, a serpente possui um estatuto de mediação entre o visível e o invisível, entre o mal e o bem. Dentre a vasta obra do artista, esta ação é representativa da força plástica do tema do erotismo: pulsão de vida (eros) e pulsão de morte (tanatos).