A violinista Maya Homburger nasceu e cresceu em Zurique e mudou-se em 1986 para Inglaterra por forma a prosseguir carreira no circuito britânico de música clássica, o que veio a acontecer com evidente sucesso e assinalável reconhecimento crítico. No seu currículo contam-se as colaborações com ensembles de música antiga como o John Eliot Gardiner’s English Baroque Soloists ou o Trevor Pinnock’s The English Concert, entre outros grupos da sua própria iniciativa e criação, e a gravação discográfica de composições de J.S. Bach, G.Ph. Telemann e H. I. F. Biber. Desde o seu encontro com Barry Guy, o trabalho de Homburger tem-se focado no desenvolvimento do seu estilo pessoal no violino barroco, tanto na interpretação das obras de outros compositores, como a solo e no contexto da música improvisada.

Agustí Fernández (Palma de Maiorca,1954) é um pianista espanhol de projeção internacional no contexto da cena global da improvisação livre e também com um trabalho significativo de direção de ensembles. Ao longo da sua carreira prolífica e diversificada, Fernández colaborou com grandes improvisadores como Peter Kowald, Evan Parker (cujo Ensemble Eletro-Acústico integrou), Joe Morris, Peter Evans ou Mats Gustafsson, entre muitos outros nomes prestigiados da música global, bem como com instituições prestigiadas do jazz como a London Jazz Composers Orchestra, tendo editado até à data mais de duzentos e cinquenta registos discográficos.

Ao longo das últimas cinco décadas, o contrabaixista e compositor inglês Barry Guy desbravou através da sua atividade artística inúmeros territórios musicais – da música antiga à experimentação mais radical – em ventos cruzados de criação intersectados por encontros com incontáveis ensembles e criadores. Um músico simultaneamente físico e cerebral, teórico e preceptivo, com uma obra ramificada por trabalhos desenvolvidos a solo, como líder ou em parceria cúmplice com outras figuras seminais do jazz avant-garde e da improvisação livre, como Derek Bailey, Tony Oxley, Marillyn Crispell ou Evan Parker, Barry Guy é hoje unanimemente considerado um dos percursores europeus do que hoje entendemos ser a música mais representativa da contemporaneidade – um movimento amplo e pluridiomático definido não pelos géneros, mas pela transgressão constante de fronteiras artísticas e culturais.

Se a relação de profunda cumplicidade pessoal e artística entre Maya Homburger e Barry Guy constituiu a génese espiritual deste projeto, as ligações entre os três músicos expandem-se à Blue Shroud Orchestra, um ensemble de catorze músicos liderado por Guy que gravou recentemente no Porto aquele que será o seu terceiro registo discográfico. Plenamente integrada no fluxo da tradição musical europeia, e influenciada tanto pelas extremidades angulosas do free jazz como pelas abstrações cosmológicas da composição erudita contemporânea, a música deste trio espera-se intelectualmente exigente e sensorialmente recompensadora.